
"Dizem que o tempo cura. É mentira. O tempo não cura nada, o tempo alivia a dor, consola-nos a alma, ensina-nos a tratar dos afectos como pessoas crescidas. Uma espécie de anestesia fraquinha, que nos faz distrair de nós mesmos. Das nossas emoções e da força dos nossos sentidos. E depois vêm os entendidos, movidos pela urgência da cura. Trazem o diagnóstico numa mão e a receita na outra; chamam-lhe obsessão, fixação, paranóia, teimosia, e para que ela se instale há que declinar o verbo esquecer, em todos os tempos e modos, como se alguém estivesse realmente interessado em esquecer. Mas na verdade tornámo-nos «autistas do amor» e a convalescença é apenas o analgésico da recaída – quando nos julgamos sarados da ausência, ela ganha contornos antigos e de repente aumenta à nossa frente maior do que nunca antes." !
