26/04/2009

" Querida Theresa,

Consegues perdoar-me?
Num mundo que eu raramento compreendo, existem ventos de destino que sopram quando menos os esperamos. Por vezes sopram com a violência de um furacão, outras vezes mal os sentimos no rosto. Mas os ventos não podem ser negados, trazendo como muitas vezes trazem um futuro impossível de ignorar. Tu, minha querida, és o vento que eu não antecipei, a rajada que soprou com mais força do que eu alguma vez imaginara possível. Tu és o meu destino.
Eu fiz mal, muito mal, ao ignorar o que era óbvio, e peço que me perdoes.
Como um viajante cuidadoso, tentei proteger-me do vento e perdi a alma em troca. Fui estúpido ao ignorar o meu destino, mas até os estúpidos têm sentimentos, e acabei por perceber que tu és a coisa mais importante que tenho neste mundo.
Eu sei que não sou perfeito. Cometi mais erros nos últimos meses do que alguns cometem numa vida inteira. Fiz mal ao agir da maneira como agi quando encontrei as cartas, tal como fiz mal ao esconder a verdade sobre aquilo que estava a acontecer comigo em relação ao meu passado. Quando corri atrás de ti na estrada e também quando te vi partir no aeroporto, soube que devia ter-me esforçado mais para te deter. Mas mais do que tudo, fiz mal ao negar o que era óbvio no meu coração: que não sou capaz de continuar a viver sem ti.
Tinhas razão em relação a tudo. Quando estávamos os dois sentados na cozinha, eu tentei negar as coisas que dizias, mesmo sabendo que elas eram verdadeiras. Tal como um homem que olha apenas para trás numa viagem através do país, eu ignorei o que estava à minha frente. Perdi a beleza de um nascer do Sol que estava para vir, o encanto da antecipação que faz a vida valer apena. Fiz mal ao proceder dessa maneira,em resultado da minha confusão, e gostava de ter percebido isso mais cedo.
Agora, porém, com os meus olhos postos no futuro, vejo o teu rosto e oiço a tua voz, certo de que esse é o caminho que devo seguir. É o meu mais profundo desejo que tu me dês mais uma oportunidade. Como deves ter imaginado, tenho esperança que esta garrafa faça valer a sua magia, tal como aconteçeu uma vez, e que de alguma maneira nos volte a juntar.
Durante os primeiros dias de teres partido, quis acreditar que poderia continuar a viver como sempre tinha vivido até então. Mas não posso. Sempre que assistia a um pôrdo Sol, pensava em ti. Sempre que passava pelo telefone, ansiava telefonar-te. Mesmo quando saía de barco, apenas conseguia pensar em ti e nos tempos maravilhosos que tivemos juntos. Sabia no meu coração que a minha vida nunca mais seria a mesma. Queria-te de volta, mais do que imaginara possível, e no entanto, sempre que te evocava, ouvia as tuas palavras na nossa última conversa. Por mais que te amasse, sabia que nada iria ser possível a não ser que nós – os dois – tivéssemos a certeza de que eu me dedicaria inteiramente ao caminho que seguia em frente. Estes pensamentos continuaram a perturbar-me até ontem ao fim da noite, quando a resposta finalmente veio ter comigo. (…)
Oh, Theresa, lamento muito, mas mesmo muito, ter-te alguma vez magoado. Para a semana irei a Boston com a esperança de que encontres uma maneira de me perdoar. Se calhar é tarde de mais agora. Não sei.
Theresa, eu amo-te e amar-te-ei sempre. Estou cansado de estar sozinho. Vejo as crianças a chorar e a rir enquanto brincam na areia, e percebo que quero ter filhos contigo. Quero ver Kevin transformar-se num homem. Quero segurar a tua mão e ver-te chorar quando finalmente escolher uma noiva, quero beijar-te quando os sonhos dele se realizarem. Mudar-me-ei para Boston se me pedires, porque não posso continuar desta maneira. Fico doente e triste sem ti. Sentado aqui na cozinha, rezo para que me deixes voltar para ti, desta vez para sempre. "

Garret