Sinto-me a perder os sentidos depois de ter batido com a cabeça na cómoda. Uma variedade de comprimidos de todas as cores cobrem a superfície do chão e consigo avistar a lâmina ensanguentada nas pontas dos meus dedos. Uma luz desce sobre mim com a suprema paz que tenho procurado. Leva-me para cima, onde a dor é um mito e a felicidade é regra. Leva-me para onde possa voar livremente na ausência da conexão existente entre sentir e chorar. Leva-me para um sítio onde eu seja merecido. Leva-me para o céu, a voar por entre as nuvens. Leva-me a conhecer as estrelas sem que eu tenha conhecimento do desejo me levou a querer conhecê-las. Começo a dar conta do estado terminal para o qual me arrastei numa overdose de medicamentos e emoções. Já não me sinto no corpo mas no coração. Breve este deixará de bater, e se não bate por ti, não baterá por mais ninguém. Nem pelo mundo que se revela insignificante neste plano de auto destruição. É tão bom pensar que nunca mais te vou ver e melhor ainda pensar que nunca mais entrarás na minha cabeça. O ritmo desacelera e já sinto os sentimentos desaparecerem. Tudo começa a parecer um pesadelo e os olhos começam a fechar. Vai tudo ficar bem, penso para mim. Vou fechar os olhos e dormir.
Z05.08, tão verdadeiro.